sábado, 14 de fevereiro de 2009

Três construtos

.
Existe mais verdade
no rastro da cobra
que rasteja no chão
escrevendo na areia
do que nessas palavras tolas
mera observação, por certo besteira.

Existe mais verdade
em qualquer vôo de pássaro,
na invisível movimentação de ar
escrita com a ponta das penas,
do que nessas palavras fugazes
tentativa de contemplação digna de pena.

Porém, não fossem essas palavras hábeis,
zumbindo entre o céu e o chão,
nunca que estaríamos aptos
para ver verdades alheias
a escrita invisível do pássaro,
o rastro da cobra na areia.
.

2 comentários:

  1. Esse poema também é do meu segundo livro, Retorno ao Oriente. Porém, este não foi escrito na Índia, mas no Brasil, durante o processo de confecção do livro.

    Para mim, ele é totalmente baseado no que absorvi da poesia do Paulo Henriques Britto — sempre ele! — a reflexão sobre o que a linguagem é capaz de fazer, os limites de suas possibilidades e impossibilidades. Mas, é claro que se fosse um poema dele, estaria tudo na mais perfeita métrica...

    Este poema também está publicado no Blog do Bolha, o outro blog que tenho com os amigos do jornal Plástico Bolha.

    ResponderExcluir
  2. Excelentes atos (e hiatos). Vários que eu não conhecia! Fantástica sua constelação de stand bys.

    ResponderExcluir