terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A arte da palavra

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Eles poderiam apenas curtir seus anos de faculdade entre baladas e saraus-bicho-grilo. Ou ainda curtir o seu pontifício universitário campus bucólico. Poderiam bancar os intelectuais que filosofavam sobre tudo e todos sem sair do lugar. Ou ficariam fumando maconha contra o capitalismo selvagem que oprime! Seja, qual for o estereótipo selecionado, um grupo de estudantes de Letras resolveu sair um pouco da sala de aula e expor sua produção pelas ruas.

Já tinham os textos, e logo produziriam mais. Mandar para uma editora, tentar um livro é algo complicado no acanhado mercado editorial brasileiro. Então, por que não criar uma “vitrine” para esses trabalhos? É claro que a primeira coisa que a gente pensa é “Ah! Faz um blog e manda uns spams pros amigos!”. Mas, eles quiseram algo diferente: um jornal! Um passo atrás? Pelo contrário. O resultado? O jornal literário Plástico Bolha.

Toda essa movimentação já tem três anos e o jornal que começou circulando apenas no Rio de Janeiro, hoje é distribuído em Belo Horizonte e, em outubro, chega a Vitória. Ao todo, o Plástico Bolha teve 23 edições e é da vigésima quarta em diante que os capixabas vão poder acompanhar e colaborar com o jornal. E quem ficar interessado nos números anteriores, Lucas Viriato, um dos editores do jornal, avisa: todas elas podem ser acessadas pela internet.

Vamos conhecer por etapas o Plástico Bolha. Se atualmente a internet é a grande vitrine, por que eles voltaram para o papel? “Pode até parecer uma idéia antiquada, mas queríamos fazer em tablóide e criar uma relação mais próxima com o leitor. A internet é um meio impessoal. No papel, a pessoa leva o jornal para onde quiser, dobra e põe na bolsa, ou ainda dá para outra pessoa ler”, explica Viriato. Mas, eles sabem que com a internet atingem o potencial de público é maior. Daí surgiu a idéia de montar um site do jornal.

“A princípio, o mesmo conteúdo que sair no jornal impresso vai para o site e também as edições passadas. A identidade visual será diferente, mas quem quiser poderá baixar o arquivo da versão impressa. Depois a idéia é colocar coisas diferentes”, revela o editor. De acordo com Viriato, algumas sessões recebem mais textos do que o espaço reservado. Com o site, os textos que ficaram de fora também são divulgados.

Mesmo com as restrições que o formato impõe, o Plástico Bolha já publicou mais de 500 textos de aproximadamente 250 autores. Agora eles aguardam a colaborações dos capixabas. “Em Minas, começamos a receber tantos textos que criamos uma coluna só para os mineiros. Esperamos que isso aconteça no Espírito Santo”, instiga Viriato. É claro que não basta mandar milhões de textos, tem que ter qualidade.

O processo de seleção é rigoroso e tenta ser idôneo, coisa que jornais ditos mais sérios não fazem. “A gente recebe os textos e uma equipe tira a autoria e passa para as pessoas que selecionam. Ninguém sabe Quem é o autor, a gente só descobre depois que o texto é aprovado. É lógico que a gente convida alguns amigos, mas os demais entram pelo mérito mesmo”, detalha Lucas Viriato.
A equipe do Plástico Bolha é basicamente formada por 20 estudantes (ou ex-) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Apesar disso não há vinculo institucional com a universidade, “apenas emocional”. Para se manter o jornal ainda é financiado em parte pela equipe. A outra parte vem de pequenos anunciantes. Somando essas duas rendas, eles conseguem uma tiragem de 10 mil exemplares.

E como esse jornal veio parar em Vitória? “Com a distribuição em Belo Horizonte, queríamos divulgar mais o jornal em uma terceira capital. Também era intenção tirar um possível bairrismo dele e sair um pouco do eixo Rio-São Paulo. Além disso, ir para São Paulo era inviável por envolve um tiragem bem maior e logo mais grana. Pensamos em Vitória, até porque nas capitais menores a resposta é maior”, afirma Viriato. Eles ainda pretendem distribuir o Plástico Bolha em outras capitais menores, como Brasília, e com isso forma uma rede de comunicação, poesia e literatura. “Quem sabe também ganhar grana. É meio ideológico”, brinca.

Plástico Bolha apresentado, a primeira coisa agora é correr atrás da próxima edição que, em Vitória, será disponibilizada em vinte pontos de distribuição, entre faculdades, livrarias, teatros, cafés, galerias de arte e sebos. Quem se animar e quiser contribuir, Lucas Viriato enfatiza “é só mandar o texto para a gente que vamos avaliar. O e-mail é jornalplasticobolha@gmail.com”. E quem pensa que é só um pedaço de papel se engana. Vários autores que publicaram textos no jornal lançaram ou estão com livros no forno para sair. “Eu mesmo sou um deles”, afirma Viriato. Afinal, se está na vitrine alguém vai ver e, quem sabe, levar.
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Por Leonardo Viso para o site Século Diário, de Vitória (ES)
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