terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aeroportuário

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Esse aeroporto faz minh’alma doente
Um não-lugar que convalesce e estiola
E eu vou buscar um ópio que consola
O Oriente ao oriente do Oriente.

O ticket de bordo que me foi dado
Insiste em sumir-me — mas que cabeça! —
E, por mais que o procure até que adoeça
Já não o encontro para embarcar-me

É a mesma inépcia que me leva, então,
A roubar versos d’outro em minha escrita
Onde andará o pudor na poesia?
No próprio gozo da recriação?

A sala de embarque é uma coisa triste
Embora a gente se divirta às vezes,
Com best-sellers e eme-pê-treses
Já a minha sina é fazer pastiche.

Será que deverei permanecer
Aqui no Oriente, nesta Índia
Semelhante àquele filme do Spielberg
Num terminal obrigado a viver

Maldito aeroporto! Não há remédio.
Preciso do ticket neste momento
Voltar passo a passo em meu pensamento
Esse problema está ficando sério.

Procuro. Canso. Peço a São Longuinho.
Mas que peste! Tenho que me lembrar
Pra que fui visitar a Índia que há
Se Índia não há senão a alma em mim?

Pertenço a um gênero de brasileiros
Que depois de estar a Índia posta em versos
Ficam sem trabalho ou buscam um método
De repetir tudo mais uma vez.

“Leia o diabo do livro”, a gente apela
Mas nem eu leio os livros que me chegam
É sempre o Oriente, essa besteira
Que a gente trova, tenta tornar bela.

Estou no aeroporto à força! Desespero.
O avião já vai partir uma hora dessas
Preciso urgentemente encontrar nessa
Sala alguém que possa me socorrer.

Eis que o ticket como uma flor da Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro, pronto a lembrar-se
Agora sim, graças a Deus, enfim!

E estava o tempo todo na carteira!
Agora posso entrar nesse avião.
Ser um brâmane era a minha intenção,
Mas sem cabeça? Melhor ser guerreiro.

Ah, que bom que é estar de partida
Sem ter com um terrorista e seu estouro.
No reflexo do vidro estou mais louro
Deve ser esse forte sol da Índia.

Afivelo o cinto com fé e calma
Livre dessa situação confusa
Já o avião o firmamento cruza
E basta de paródias em minh’alma!
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