quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A idéia de Arthur

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A idéia era recém nascida: original, revolucionária e impactante. Coisa rara, para poucos, dessas que só se tem poucas na vida. Uma idéia capaz de transformar as coisas da forma como elas se encontram. Capaz de redefinir conceitos e paradigmas. Resumindo: uma idéia e tanto!

Ela chegou à cabeça de Arthur na tarde de um dia chuvoso. Ele certamente deveria ter reunido os pré-requisitos para o seu aparecimento. Estava relaxado, havia estudado bastante, tinha consumido todos os elementos necessários para a sua formação. Era uma questão de tempo: com tudo ali na sua cabeça, uma hora, o seu inconsciente resolveria abrir espaço para ela, a magnífica idéia que mudaria o mundo.

Quando Artur se deu conta pela primeira vez que tinha tido uma idéia daquele tipo se assustou. Não era coisa comum de se ter assim a qualquer hora. “Tenho que botar isso no papel” — pensou. E se pôs a procurar uma folha em branco e uma caneta.

“Trrrriiiiimmmm”.

Toca o telefone. Era Amanda, a namorada de Artur. Conversa, desentendimento, reconciliação. O que ele tava fazendo mesmo? Bem, era melhor tomar um banho porque em pouco tempo ele deveria estar na casa da namorada.

Arthur adorava massagear seus cabelos cheios de espuma. Ele achava aquilo relaxante. Realmente aquele ato devia estimular o pensamento do rapaz, pois, naquele momento, a idéia retornou com toda força à sua mente.

Era isso que ele estava indo fazer quando o telefone tocou! Mas, naquele momento, com seu corpo repleto de espuma, seria impossível anotar qualquer coisa que lhe passasse pela cabeça.

Ele estava se enxugando quando o telefone tocou novamente. Amanda já estava pronta. É, ele sempre perdia a hora lavando o cabelo e, agora, só lhe restavam quinze minutos para estar na frente do prédio da namorada.

Apressou-se, mas foi inútil. Ouviu reclamações quanto ao atraso.

Foram assistir a um filme bobo, e comeram em um local igualmente bobo. No fundo, formavam um casal um pouco bobo.

Chegaram tarde em casa. Amanda dormiu na casa de Arthur esta noite. Antes de dormir, a idéia que estava em sua cabeça, foi em que ele prestou menos atenção: Amanda era bonita e encantadora.

Mas a idéia era não só muito boa como persistente, pois continuou ali, na cabeça de Artur, durante toda a noite. Levantar? Estava tão confortável ali na cama. O corpo de Amanda o esquentava do frio do ar-condicionado e os travesseiros já estavam posicionados da maneira que ele gostava. A idéia podia esperar até amanhã.

Não, ela não podia. Naquela madrugada a idéia se irritou com Arthur e foi embora. Rumou para a cabeça de outro que tivesse a coragem, ou a disposição de botá-la em prática.
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Acordou sem se lembrar mais dela. Havia se esquecido. Só foi se recordar que já havia tido aquela idéia alguma vez na vida quando, meses depois, abriu os jornais e viu como a pessoa que a havia tido havia ficado famosa e conceituada. Ele se xingou por dentro, mas de nada adiantava. Arthur era mesmo bobo, e as boas idéias não encontram ambientes confortáveis na cabeça de gente deste tipo.
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Um comentário:

  1. Amei a Idéia de Arthur, como é que você teve esta idéia?
    Beijinhos da sua fã
    Luciana Nunes

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